Confira o relato da irmã Mári, missionária enviada pelo Ministério Restauração à Índia, por meio da A.M.E. Heróis da Fé, que, após um período em Markapur, Estado de Andra Pradesh, agora está se estabelecendo na grande cidade de Bangalore, no Estado de Karnataka:
Paz do Senhor a todos!
É com alegria que compartilho com os irmãos mais algumas notícias aqui da Índia.
Nos primeiros quinze dias após minha chegada, fiquei em um hotel bem bom e barato, que me dava condições de preparar meu próprio alimento e que me deu estabilidade para poder resolver a questão do meu registro na Imigração.
Porém, considerando que não sabia quando encontraria uma casa para morar e montar a base do trabalho, para economizar o dinheirinho da obra, alojei-me numa pensão, com mais duas moças, e ali fiquei, enquanto procurava casa para alugar. Era um quartinho de 2,5m x 3m, com uma cama, um armário, uma cadeira, uma pequenina mesa de 50 cm de altura e um fogareiro. O banheiro e a geladeira ficavam fora do quarto e não havia acesso à Internet. Além disso, o dono da pensão, hindu de casta alta, proibiu-me de preparar qualquer tipo de carne enquanto estivesse na pensão. E eu obedeci. Certo dia, estava morrendo de vontade de comer um franguinho e consegui um restaurante que preparou uns cubinhos de galinha fritos, sem pimenta. Por cerca de 200 gramas, paguei o equivalente a 20 reais. E fiz durar por três refeições. Risos… Tudo bênção! Apesar de tudo, fiquei bem contente com a conquista e com a economia que fizemos.
Visita às igrejas indianas
Enquanto estava nessa pensão, fui visitar a obra em Andra Pradesh, na época do Natal e Ano Novo.
Uma escola de Markapur nos convidou para levar uma palavra. O irmão Prabhakar pregou e eu deixei uma pequena mensagem para as crianças. Em meio a isso, serviram um pedaço de bolo com guardanapos de jornal. Depois, dezenas de crianças vieram me pedir autógrafo. Como eu não sou artista para isso, não querendo desapontar as crianças, escrevi em inglês nos cadernos, e até no braço de alguns adultos, a maior parte deles hindus: “Jesus loves you” (Jesus te ama).
Como é do conhecimento de todos, temos atualmente cinco trabalhos no estado de Andra Pradesh, nas cidades de Markapur, Tripurantakam, Vinukonda, Miriyanpalli e Macherla. Visitei cada local em dezembro e, de lá para cá, tenho feito visitas mensais, quando participo de alguns cultos e nos reunimos em um dia de consagração.
Os frutos já são visíveis
Quando cheguei do Brasil e visitei Markapur pela primeira vez, emocionei-me em rever a família do Prassad (aquele canceroso que converteu-se antes de morrer). Estavam todos no templo, servindo a Deus. É impressionante a diferença que Deus faz na vida de uma pessoa! As crianças também ficaram alegres em me ver e retornaram ao portão da casa, como faziam antigamente.
O irmão Anand Paul e sua família estão com um trabalho lindo com crianças, na cidade de Vinukonda. Quando os visitei pela primeira vez, as crianças me recepcionaram com flores e cartazes de boas-vindas e, no dia seguinte, cerca de 30 delas seguiram em fila indiana desde a casa da família Anand até a AD Restauração para a “reunião” da noite.
Aventuras na locomoção
Locomover-se, aqui na Índia, é sempre uma aventura – seja pela paisagem ou pelos inusitados dos caminhos, seja pelo estado dos transportes ou pelos perigos reais.
Numa das viagens, ao voltar à Bangalore, peguei um trem, junto com toda a família Anand Paul, rumo à cidade de Vijaiawada, para lá pegar um ônibus para Bangalore.
A viagem durou quatro horas. No caminho, tivemos que trocar de trem e, como nosso tempo estava curto e o trem em que deveríamos seguir viagem estava ao lado do nosso, o irmão Anand me perguntou se eu me animava a trocar de trem pelo meio dos trilhos. E eu fui…
Quando estávamos quase chegando em Vinukonda, o trem parou em determinado lugar, fora de estação, e o irmão Anand nos disse que era bem próximo da rodoviária e que deveríamos descer rapidamente. Ocorre que nosso vagão estava justamente sobre um viaduto, e descemos do trem a meio metro da “queda”. Eu me apavorei, mas fui. E ainda filmei. Risos… Uma aventura que jamais imaginei passar… somente Jesus para nos guardar…
No início de fevereiro, voltei a visitar as AD Restauração de Andra Pradesh e, desta vez, aventurei-me a ir em um “super luxury bus”, uma classe de ônibus bem comum aqui e que, de luxo, só as almas que andam nele. As viagens são sempre à noite. Quando estávamos a cerca de 100 km de distância de Bangalore, num desertão indiano, na escuridão da noite, quando nem uma luz se via, o ônibus estragou. Os guerreiros motorista e cobrador levantaram o capô do motor, pegaram uma barra de ferro e, ajudados pela luz de celular de alguns dos super hiper tranquilos passageiros, entraram embaixo do ônibus e começaram a bater, bater, bater…. e o ônibus saiu andando novamente, até encontrar, alguns quilômetros mais à frente, uma oficina que terminou o conserto e permitiu que seguíssemos a viagem estrada e selva adentro, sempre com a porta do ônibus aberta, e a 30 ou 40 km por hora.
Antes de retornar a Bangalore, a irmã Letícia, da Ramo da Videira, me enviou uma mensagem dizendo que oraram por mim no Brasil, pois souberam da notícia do tigre que entrou numa escola aqui em Bangalore e fez com que, pelo medo, cerca de 100 escolas fechassem as portas nos dias seguintes. Como eu estou trabalhando numa escola, ficaram preocupados.
Eu não estava sabendo da notícia, mas, quando li a mensagem dela, imediatamente me dei conta do perigo que corri em viajar 14 horas num ônibus naquele estado. Senti como um aviso divino e, na volta, pensando no perigo que corremos andando pela selva de tigres com a porta do ônibus aberta, decidi não arriscar virar comida de tigre e vim por outro caminho e com ônibus mais seguro.
Aqui na cidade, um grande problema que enfrento são os rikixás. Eles escolhem corrida, cobram exorbitâncias e, muitas vezes, se recusam a usar o taxímetro ou usam, mas, no meio da viagem, trocam o preço e exigem mais dinheiro. Por essas e outras razões, certo dia acabei pulando de um rikixá num lugar muito escuro e deserto, com duas sacolas pesadas nos braços. Por providência divina, uma senhora apareceu e me ajudou no caminho até um ponto iluminado, onde pude pegar outro rikixá.
Outro dia, o motorista começou a cobrar mais quando eu estava quase chegando na escola onde trabalho. Eu paguei o devido, de acordo com taxímetro, e desci. Ele enfureceu-se comigo, parou o rikixá e saiu correndo atrás de mim escola adentro. Todas as classes pararam a aula e vieram para as sacadas, que dão para o átrio interno da escola, para ver o que estava acontecendo. O homem estava possuído e não parava de falar. Para acabar com aquilo, acabei pagando o que ele queria, mas fiquei muito chocada com o fato.
Há também a questão de que muitos motoristas são muçulmanos e já tive algumas outras experiências negativas aqui nos eles quando procurava casa para alugar. Muitos deles são intolerantes com os cristãos. Somente Jesus para nos guardar do mal.
É estressante e terrível a situação desse tipo de transporte aqui. Fora isso, tem a questão da poluição que, por vezes, torna o ar irrespirável. Mas tudo fazemos por Ele e para Ele. Nosso tempo nessa terra é tão curto…
O trabalho na escola
Ainda nos dias em que estava morando na pensão, comecei a trabalhar como professora de Português em uma escola indiana.
Os estudantes estão gostando muito. São crianças de duas turmas diferentes, num total de 56 alunos.
Para ensiná-las, uso projetor, muitas imagem, objetos e gestos. É somente pela graça do Altíssimo, pois meu Inglês deixa muito a desejar. Mas, mesmo assim, elas estão aprendendo e, inclusive, crianças hindus e islâmicas já cantam em Português dizendo que “é muito bom ter Jesus no coração”.
Aluguel da casa
No dia 25 de janeiro, finalmente me mudei para a casa que alugamos. Uma boa casa, próximo à maior e mais pobre favela de Bangalore, e quase debaixo de um viaduto.
Depois de cozinhar num fogareiro por 25 dias, passei mais 15 sem fogão, preparando meu alimento apenas no micro-ondas que compramos. Ocorre que, aqui, os serviços, principalmente para pessoal de fora, são rigorosamente controlados pelo governo. Assim sendo, tive de me cadastrar e esperar pela aprovação para poder comprar gás, o que demora 10 dias ou mais.
Hoje já estou com praticamente toda a casa mobiliada, fruto das contribuições dos irmãos, inclusive de pessoas que me ajudaram nos meses em que estava no Brasil esperando o visto. Tudo serviu e está servindo de bênção para os trabalhos aqui. Agradeço a todos. Doaram para o Reino, e Deus vos recompensará.
Lançando a semente
Nesse ínterim, trabalhando e procurando casa para alugar, passei a manter contato com alguns irmãos que vivem aqui, indicados pelo irmão Moses. Por eles, conheci novas pessoas crentes e também visitei muitos templos, entre eles um localizado no centro de uma favela com casas de lona plástica. Eu já fui duas vezes nesse lugar. Cerca de 25 pessoas assistem aos cultos ali.
A pedido do irmão Louis, do Nepal, fui procurar sua mãe, que ele não vê há muitos anos, e a encontrei. Assim, estou conhecendo a cada dia mais pessoas, fazendo amizades e aguardando o momento da Restauração se estabelecer em Bangalore.
Certo dia, enquanto procurava casa para alugar, senti de chegar numa casa antiga, escondida entre árvores, o que não é normal aqui, com um enorme terreno, para ver se não queriam vender. Comecei a conversar com o casal de moradores e com mais algumas pessoas que ali estavam. Convidaram-me para entrar, conversamos e ficamos amigos. Então, soube que eram católicos. É um casal muito especial que, desde então, tenho visitado com frequência. Já cantei em Telugu para eles, oro por eles e tratei o cachorro, com sarna, que dorme dentro de casa.
Eles abriram as portas de sua casa para fazermos reuniões e estão esperando a chegada do irmão Moses, que dará início à igreja nesta cidade.
O cachorro, que não tinha mais pêlo em boa parte do corpo, está curado. E o Joseph, o dono da casa, está muito feliz por isso. Sempre soube que óleo queimado é bom para curar sarna, mas nunca havia usado. É impressionante o resultado. Três dias depois, o cachorro já estava criando pêlo.
Esta semana, fui novamente visitá-los e dar banho no cachorro. Encontrei o Joseph assistindo programa evangélico americano na TV. Ele tem sede de Deus. Estamos todos esperando o irmão Moses chegar.
Pedido de oração
Este mês também começaram as aulas de Inglês e de Kannada, a língua mais falada aqui em Bangalore. Tenho aula todos os dias da semana. A professora está me questionando muitas coisas de Bíblia e estou respondendo. Dei uma Bíblia para ela. Seu esposo é servo de Deus.
Bem, seriam essas as notícias que, resumidamente, gostaria de passar aos irmãos nesse momento. Teria muito que contar, mas o tempo é curto. Peço que intercedam a Deus por mim, pois tenho entendido cada vez mais que, para ajudar esse povo, é necessário saber falar a língua deles. Também peçam para que Deus me guarde de todo o mal, pois somente Ele é a nossa segurança, e que todo o projeto dEle se cumpra em nossas vidas e nesta nação.
Que Deus recompense-os pelas orações, pelo carinho, pelas contribuições… por tudo.
Devuru nimanú assinada madalí! (Deus vos abençoe, em Kannada).